quinta-feira, 28 de junho de 2007

"Crave" de Sol

Tentar chorar é ceder à tua dor
e fingir o não é tê-la longe de mim;
as lágrimas me lambem os olhos
e lavam minh'alma em busca da tua,
ansiando qualque sopro ou notícia teus.
Me fecho no tempo
e viajo num instante eterno
de noites insones.
Mas você é só um prelúdio sem fim,
me deixa sonhar... e só sonhar.

Destinos

E o menino desce a rua
a água desce a rua
a própria rua desce em si
desce em si mesma
desce para lembrar
que já a desceu
e que não pode voltar

Chilreia

Duas frentes e um olhar -
gêmeo.
Duas core e um corpo -
nú.
Ela em branco, eu
em negro;
ela chamuscada -
em negro - de mim;
meus olhos lavados -
do branco - dela.
Um passáro cantou!

terça-feira, 26 de junho de 2007

Talvez. Talvez? Talvez!

Bem! eu acho... (pensou num dos seus intervalos de talvez). Mas como estar bem numa condição desconhecida? Não ter certeza dos seus sentimentos era concebido como regra. E assim, continuou sua divagação, embora conversação, com a dona que se precipitava na mesma confusão. Lembrou que numa dessas passagens zapeadas pela tv, ouviu dizer da dependência química do estado de espírito.

Fragmentado. Pensava assim as suas idéias, as palavras e os sentimentos, outrora pueril e romântico, hoje: urbano, rápido e vulgar.

Maduro?

Ela disse que passava para vê-lo. Ele nem notou e esqueceu de mais alguns dos seus compromissos. Um casal de amigos lhe trouxe um presente. Tentou se entorpecer dele, mas já não lhe provocava a mesma sensação de antes, não se permitia, talvez - senão a boca que secava e amargava. Viajou numa trilha amorronzada e amarrotada de formigas (sempre o fazia) - com ou sem seus tragos queimados. Ressecou-lhe a garganta e mais uma vez a sensação de estar nos intervalos de talvez.

Talvez. Talvez? Talvez fosse desconhecido por ele. Voltou ao seu encontro despropositado - nenhum dos que assumira ou tivesse tentado fazê-lo. Seu casal(?) de amigos conversava, bebiam na sala alta enquanto cá, na antecessora, ele escutava qualquer coisa de rock clássico. Estava vazia, poucos móveis; meia-luz, débil; umas pontas de cigarro, outras não; meia taça de vinho, engordurada; sapatos, poeira e a trilha de formigas tracejando seu caminho com sua carga indecifravel.

Viu emoldurada a arte de sua nova tempestade platônica. Estou bem? Eu acho... agora mais desconfiado do que antes. E tragou goles rápidos e volumosos do seu vinho engordurado. Precisava encher seu copo. E a garrafa estava vazia. E o casal(?) na sala alta? Foi e não se demorou e da boca feminina da sala alta, ouviu: profundo! Pensou, pois só pensava enquanto esvaziava a alma e embriagava o corpo, num motivo sexual, depois na sua natureza humana.

Surpreendeu-se com sua capacidade veloz de raciocínio para as suas "intressências". Pro resto, era lento e disperso, como não se incomodasse com a vulgaridade simplória do tempo alheio nem de um tempo imposto.

Ouviu tês tiros e imaginou: estou bem? acho que sim... mas alguém não está. Tropeçou na idéia de ser o outro ele, não o igual ao do momento, mas o outro ele. Seria o outro ele lírico? o outro ele poético? ou o outro ele imaturo e inconsequente?

O ele de agora se negou a admitir sua outra parte, a sua parte disperdiçada.

A pintura, indefinida no espaço, e o outro casal (?) continuavam no seu tempo. O ele, e o outro ele, não!

No dia em que a sintaxe não concordou

No dia em que a sintaxe não concordou. Ela acordou dislexa, trocando umas palavras tolas. Ela não sabia mais quem era e se confundia com a sua já majestada amiga comum. Tinham tanta concordância! mas agora se embaralhavam em alguns equívocos e desatinos. Não mais se reconheciam, talvez a dúvida ou um bloqueio de sinapses. Pra onde elas foram e que rumo tomaram? Será que seguirão o mesmo rio? E se diferentes, oxalá desaguem no mesmo mar, ao menos de prosa, primosa, formosa 'sintaxidade' novamente.
Volta sintaxe, desenrola, concorda. Pega essa tua forma. Forma, forma!

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Café


E na ansiedade de provar do melhor sabor, esperou toda uma safra; até que as minúsculas frutas alcançassem o bordô mais intenso e se transformassem, depois, num volumoso conteúdo preto-amarronzado. Esperou esse momento, da fruta ao volume, do volume ao sabor; esperou para segurar sua xícara fumegante, evaporando suas fumaças rodopiantes, até a iminência do primeiro gole. Salivaria gotinhas quentes e saborosas como forma de amor.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Cartaria

Toda carta deveria ser logo postada. Será que elas chegam às quartas? E o pior de tudo é que as quartas nunca chegam; se chegam, encontro empoeirada minha caixa metalizada recebedora de notícias. Mandei dizer para uma moça que não avissasse sobre elas, mas a minha ansiedade atropela qualquer carta em qualquer desses dias de meio-de-semana.

Um dia escrevi cartas, elas eram longas e em papéis azuis, eram tão mórficas! na sua concepção! Ainda as continuo escrevendo... mas elas nem chegam ao papel, são tão imaginárias, agora nos seus montes verde-azulados. Prefiro esperar! Todos esses dias.

Canso de esperar as moças ou moços em uniforme azul e amarelo tão bandeiroso de nossa pátria, trazendo ouros e céus. Eles vêm em zigue-zague entre os números da rua. Espero alcançarem o 77, mas param no 71. Seguem duas casas abandonadas, e a 75 só recebe correspondências no fim de cada mês - acredito que as contas. Aí, eles se vão...

Toda postagem deveria ser anunciada como de propósito. Será?

Eu espero.

Sempre quis ser carteiro.